Os primeiros filmes produzidos na história do cinema eram gravados na duração de um rolo de filme, sem cortes, edição ou técnicas de montagem. Entre os motivos, a falta da montagem fazia com que os filmes fossem curtíssimos, durando até 1 minuto - beeeem mais curtos do que os curtas atuais. Com este advento cinematográfico, foi possível que diferentes momentos gravados ou diferentes rolos de filmes fossem colocados em sequência para criar um novo produto: mais longo e mais dinâmico.
Um dos primeiros filmes onde a montagem está presente é Demolição de um Muro (1896) de Louis Lumière. Nele vemos um muro ser demolido e, em seguida, ser colocado de volta em pé pela combinação de ums mesma sequência, porém reproduzida ao contrário.
É claro que essa técnica evoluiu com o passar dos anos e, com ela, a narrativa visual de um filme passou a depender da montagem. Neste texto vamos te apresentar o que é a montagem, como ela funciona no cinema e algumas de suas técnicas mais conhecidas.
Você sabe o que é montagem?
A montagem é nada mais do que a construção apartir da justaposição de planos para uma cena, ou de cenas para uma sequência, ou de sequências para filmes inteiros. Ou seja, é a técnica que proporciona que as várias partes do que foi gravado sejam unidos - seguindo o roteiro ou lógica narrativa - gerando um resultado sequencial e finito.
Segundo Walter Murch em seu livro "Num Piscar de Olhos", "cortar é mais que um método conveniente de tornar contínua a descontinuidade. É, em si, pela força de sua paradoxal subitaneidade, uma influência positiva na criação de um filme. Usaríamos corte mesmo que a descontinuidade não fosse tão útil por sua praticidade". Em outras palavras, o corte e a montagem tem tamanha importância na construção de um filme, especialmente para tornar conexa a sua narrativa.
A diferença entre montagem e edição
Diferente da montagem, a edição é um conjunto de técnicas associadas para criação coesa do filme e vão muito além da justaposição das partes filmadas. Nela, contamos com conhecimentos importantes de corte, transição, ritmo, continuidade e mais, que vão até a peça final. Então, a montagem em si é só uma parte do processo de edição completo no qual o material é submetido.
É nessa etapa que ocorre, frente aos nossos olhos, o que podemos dizer da verdadeira “magia do cinema”: aos poucos, conforme o corte dos planos, cenas vão ganhando forma, a história vai ganhando ritmo, o som se equilibra e as cores são tratadas até que o filme esteja pronto.
Atualmente, a arte da edição e da montagem exige do profissional doses consideráveis de domínio técnico com uso de programas como Adobe Premiere, Davinci Resolve, Final Cut, Avid Edition entre outros softwares. Entretanto, muito além do domínio técnico, é necessária sensibilidade artística e estética. Montadores/editores são como cirurgiões capazes de operar as mais sutis transformações num filme até que o projeto esteja pronto para audiência e de acordo com a linguagem proposta pelo Diretor
Técnicas de montagem
Existem diferentes técnicas de montagem de um filme cinematográfico, cada uma delas gera um resultado específico na tela. Algumas ajudam a direcionar o olhar do espectador, outras permitem contar fatos que acontecem ao mesmo tempo em diferentes lugares. Trouxemos algumas das técnicas apresentadas no livro "A Experiência do Cinema", de Ismail Xavier, com exemplos de Vsevolod Pudovkin sobre como a montagem é imporntate na estruturação da narrativa!
Contraste
Essa técnica objetiva contrastar ações opostas ou distantes para destacar um elemento da narrativa. Como acontece por exemplo em "Rocky 4" (1985), no qual o personagem principal vai até a Russia lutar com um rival local e, para demonstrar como o treino de Rocky (Sylvester Stallone) é muito rústico e inferior ao do adversário, as cenas deles treinando são editadas par a par: em um momento mostra o protagonista praticando exercícios e, em seguida, vemos o russo Drago (Dolph Lundgren) em seus equipamentos tecnológicos.
Rocky 4 (1985)
Essa repetição do contraste se repete durante toda a cena do treino dos lutadores e enfatiza um elemento crucial da narrativa.
Paralelismo
Apesar de ser similar ao contraste, o paralelismo é mais amplo e diz respeito às sequências que mostram ações acontecendo em temporariamente em paralelo, mas que não são as mesmas em significado. É o que acontece nas últimas cenas do filme de Francis Ford Coppola, "O Poderoso Chefão" (1972), no qual o nascimento da afilhada de Michael Corleone (Al Pacino) se dá ao mesmo tempo que o assassinado dos chefes da máfia que mataram seu pai.
O Poderoso Chefão (1972)
Simbolismo
Nessa técnica de montagem, nos atemos aos símbolos para construir a narrativa. Ou seja, elementos que representam a mesma coisa são colocados em sequência para passar a mesma ideia. Como no exemplo de "2001: Uma Odisséia no Espaço" (1968), tanto o fêmur quanto a espaçonave são representantes da evolução humana, cada um em sua época. Mesmo sendo objetos completamente diferentes, a montagem te permite relacioná-los além da forma, de maneira simbólica e subjetiva.
2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)
Simultaneidade
A simultaneidade pode ser facilmente confundida com o paralelismo, uma vez que também descreve cenas que acontecem em tempos paralelos, porém, aqui temos uma montagem muito mais focada na tensão gerada por essas ações. Assim, como bem descrever em Pudovkin, "é construído a partir do movimento rápido e simultâneo de duas ações, nas quais, a resolução de uma depende da resolução da outra."
Missão Impossível - Protocolo Fantasma (2011)
Nesse exemplo do filme "Missão Impossível - Protocolo Fantasma" (2011), Ethan Hunte (Tom Cruise) precisa chegar à uma sala antes de Sabine Moreau (Léa Seydoux) para fazer um acordo com a personagem, porém, para que isso aconteça, ele precisa escalar o maior arranha-céu do mundo enquanto ela sobe os andares de elevador. Urge sempre a pergunta: a tarefa se concluirá a tempo?
Leitmotiv
A reiteração do tema, ou leitmotiv, é a maneira encontrada de repetir elementos no filme que tenham o mesmo significado e estruturem o seu cerne. Ou seja, em vários momentos do filme vemos repetidamente algum objeto que representa algo que está no centro do roteiro, como acontece no filme "Réquiem para um Sonho" (2000). Nele, em diversos momentos, são colocados closes de diferentes vícios - seja em café, remédios, drogas e outros - para indicar que o filme quer sempre te lembrar desse assunto principal.
Réquiem para um Sonho (2000)
Dica de leitura
"Num piscar de olhos" é um livro resultante da transcrição de uma palestra de Walter Murch sobre edição de filmes na Spectrum Films, proferida em 1988, em conjunto com outras palestras e revisões posteriores que vão até 2001. É um ótimo livro para estudar montagem e pós-produção no cinema. Super indicamos!
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